Entrevista com Ricardo Cestari

ricardo

Hoje tenho o prazer de compartilhar com vocês a entrevista e bate papo com um grande amigo que a música me deu. Ricardo Cestari Jr. é formado em Rádio, Tv e Internet, entusiasta da arte e dos produtores de conteúdo independentes. Passou pela Vevo como Estrategista Digital e Analista de Novos Negócios (Independentes) e hoje atua como gerente de Marketing na Neoassist.

Nossa conversa foi baseada em tudo que já trabalhou, sua visão sobre os artistas independentes e toda a parte de distribuição de vídeos, confere só e pegue bons insights para seu projeto.

Geração Y: Ao ter passado por uma empresa como a VEVO, qual é a diferença que você vê hoje de encarar profissionalmente uma carreira entre um artista mainstream e um independente?

Primeiro, hoje é muito difícil separar entre mainstream e independentes. Essa linha já ficou bem nublada, já que muitos artistas independentes conseguem atingir o posto de mainstream com certa facilidade, dado o poder da Internet. Eu diferenciaria entre os que têm investimento ou não porque, nessa (longa) etapa transitória que vivemos na indústria fonográfica, quem tiver dinheiro é quem vai dar as cartas. E a diferença é gritante: uma porção de artistas independentes de alta qualidade não conseguem chegar aos seus públicos (que, sim, ouviriam suas músicas!) por não ter investimento e, quando investem do próprio bolso, não sabem como investir direito.

Geração Y: Como você enxerga hoje a cena independente?

Com alto potencial, mas perdida. Totalmente perdida. Tem poucos casos de quem conseguiu entender a Internet, as redes sociais e os modelos de streaming com precisão e, muitos dos que conseguiram entender, não tem tempo de aplicar seus conhecimentos. No fim, a maioria está buscando um modelo retrógrado, da época em que as Gravadoras eram as únicas responsáveis pela curadoria de música no Brasil. O ciclo dessa busca é triste: o artista grava um álbum lindo, conceito, com tudo o que ele acredita e vai atrás da gravadora ou selo. A gravadora não está atrás de boa música e sim de um bom negócio, então, não importa o quão bom seja o seu disco: as perguntas vão ser “quantos fãs no Facebook?”, “quantas pessoas você leva num show?”, “quantas visualizações você tem no YouTube?” e pronto: o independente descamba por caminhos completamente diversos da sua verdade pra tentar chegar a ser “bom” para a gravadora. No fim, ele se frustra: não vai conseguir bons números, porque não sabe usar a Internet para isso, vai fugir da sua verdade e vai terminar dizendo: “aff, só querem funk e sertanejo, ninguém quer escutar música de qualidade”. Todo esse ecossistema é falho, não por incompetência musical ou vontade, mas porque os objetivos e critérios estão errados.

Geração Y: Onde você procura por novos artistas? Gosta de conhecer o que anda rolando e aparecendo por aí?

Na Vevo, eu fazia um arrastão pesado em mídias sociais e serviços de streaming. O facebook tem uma ferramenta incrível que, quando você curte uma página, abre mais umas 500 sugestões, todas relacionadas, e isso facilita muito a busca. Outra plataforma sensacional é o Palco.MP3, que mostra de maneira direta quais independentes estão sendo mais tocados, curados pela equipe do próprio palco. O ClapMe e #ACenaVive também acenderam uma chama poderosa de juntar bandas e artistas parceiros num único objetivo, dois modelos que acredito muito e que sempre me traziam coisa boa. Mas o melhor jeito, o mais certeiro, é ir nas pequenas casas de show e ser apresentado por artistas amigos. Aí é batata!

Geração Y: Você está envolvido junto com o Shida em um projeto de show business, pode dizer um pouco mais sobre?

Foi pensando justamente na situação da cena independente que desenvolvemos esse projeto. Existe um problema gravíssimo de direcionamento dos investimentos na cena no Brasil como um todo, e também uma falta de organização de processos. Pensa o seguinte: o artista, naquela situação de tentar aumentar seus números, investe grana do seu bolso em patrocínios no Facebook, sem nem mesmo saber usar a ferramenta (que é muito mais complexa do que parece). Essa grana volta pra cena independente? Não volta. Não volta nem pra música. Vai pro limbo do Facebook e, daquelas curtidas, poucas vão virar ouvintes casuais, quiçá fãs. O mesmo acontece com mercenários de produção de áudio e vídeo, ou shows. Alguns valores praticados pelo mercado podem até ser realidade para artistas com dinheiro, mas não pra turma que tá vendendo o almoço pra comprar a janta. A grana (alta) vai pra esses produtores e não volta pra cena independente, só eleva o poder de barganha daquele cara entre artistas que realmente tem grana. O glamour que muitos artistas procuram muitas vezes nublam suas visões e colocam a publicidade na frente da qualidade. No fim, se fizermos uma estimativa, quantos milhões saíram dos bolsos de artistas independentes para não voltar pra cena? O número deve ser assustador, mas infelizmente não tenho uma posição consolidada. O DaLabb, esse projeto que Shida, eu e a Paty Saraiva e Erika Digon (Tudo em pauta) estamos montando, é justamente para organizar essa casa bagunçada, com a melhor ferramenta que podemos fornecer: educação, de maneira fácil, simples e didática. Começaremos com uma série de cursos à valores bem abaixo do praticado pelo mercado e, na sequência, começaremos a organizar o fluxo de caixa da cena independente. Vai ser demais! 

Geração Y: Sobre distribuição de vídeo como é feito com artistas mainstream?

Da maneira mais simples possível: alguém investe na produção de um clipe e, se for Universal ou Sony, vai direto pra VEVO, com show de lançamento e tudo mais. Hoje, muitos artistas mainstream (Emicida, por exemplo), perceberam o poder dos vídeos para expandir a marca. Emicida já estava em alta, mas quando lançou “Boa Esperança”, discutindo temas extremamente tabus na sociedade (algo que muitos não ousariam tocar, por entender o mercado como funcionando como era no passado), explodiu e virou uma máquina de mídia. E reparem como isso é sensacional: ele abraçou sua verdade e a colocou em um lindo trabalho em vídeo. Não precisou criar um produto pra agradar ninguém.

Geração Y: Como as bandas independentes podem pensar profissionalmente em relação a distribuição de vídeos?

Eu acredito que, hoje, é imprescindível o artista pensar em vídeo. E como ele não tem grana pra pagar absurdos, precisa de duas coisas: parcerias sólidas e criatividade. Parceiros com equipamento de vídeo bom (hoje bem popularizados) e muita criatividade pra gastar pouco (ou nada. Nada deve ser o objetivo). Quem faz isso muito bem aqui no Brasil é a Renata Ottoni, com o pessoal da Depois do Fim. Ela é uma excelente videomaker, que abraçou a causa da banda e consegue produzir clipes incríveis com custo baixíssimo (aliás, o último clipe delas saiu por um incrível total de 0 reais). Nos Estados Unidos e na Inglaterra, essa prática já é bem comum. O pessoal lá consegue produzir um vídeo por semana a custo baixíssimo e explodir em visualizações. Esse é o futuro! Menos Hollywood, mais dentro de casa.

Se quiser bater um bom papo com Ricardo, adicione-o em seu perfil oficial!

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