A arte sempre será maior que um número: Um manifesto pela conexão real
Que bom seria se existisse uma clínica de reabilitação para viciados em números de redes sociais. Oi, meu nome é Renato, tenho 33 anos e não surto pelo alcance das minhas redes há 1 hora.
Se identificou? Pois é, eu também.
Não é porque trabalhamos com marketing que não sofremos desse mesmo mal… as redes sociais são um vício, elas nos educaram, ao longo dos últimos 10 anos, a medirmos nossa aceitação social por meio de likes, compartilhamentos, comentários e alcance do que falamos nessas caixinhas “sociais”, e é difícil mudar esse pensamento do dia pra noite.
Recentemente assisti ao documentário “O Dilema das Redes”, que me fez revisitar muito do intuito real da fundação das redes sociais até o que elas se tornaram hoje. O algoritmo mudou o mundo e, hoje, nos governa de forma silenciosa. Somos reféns do que essa inteligência artificial acha rentável, é ela quem decide como e pra quem seu conteúdo vai aparecer, e isso não é algo que possamos controlar. Da pra driblar em alguns casos? Até dá, mas não a ponto de vencê-lo, só usá-lo por algum tempo ao seu favor.
Tá, mas o que eu quero com esse texto? Dizer pra geral abandonar as redes, fechar o Facebook/Instagram e viver panfletando na rua? Não, longe disso… mas precisamos aprender a “deixar fluir” e nos preocupar menos com a quantidade, e mais com a qualidade.
Nós brigamos com os algoritmos e com as redes para ganharmos relevância, hoje, grande parte dos artistas mensuram seus resultados por relevância – 100.000 plays, 1MM de views, 89.000 seguidores nas redes… mas, o quanto disso é real?
Quantos não “burlam as regras” e compram seguidores, plays, visualizações, pra poder comemorar um número imaginário para um público inexistente? Vale a pena? E quando rolar um show ao vivo? Esse 1MM de views comprados vão lá assistir o show? Acho que não.
O ponto é: Temos que aprender a entender que as coisas não são sempre como queremos, mas o que importa é sermos reais. Em um post temos 300 engajamentos, no outro, 50, a audiência é a mesma, o algoritmo que decidiu que aquilo não era “bom o suficiente”, mas o algoritmo é uma máquina, você um ser humano, ele não sente, ele só calcula. 50 engajamentos pode ser um resultado incrível ou péssimo dependendo do seu momento na carreira, mas o que esse engajamento trouxe? Só reações? Ou no meio deles um comentário de alguém dizendo “bicho, sua música mudou minha vida”? Só isso já vale mais que 1.000.000 de reações ou plays!
O que quero dizer: Conexões reais não tem preço e não são calculadas por uma máquina. E nós temos que buscar isso, sempre! A música nasceu pra criar conexão, não números, nós nos perdemos no meio do caminho, surtando por conta de um modus operandi social que dominou o mundo, tanto que muita gente esqueceu o porque de tudo isso: sentimento.
Se a cada 10 posts, uma pessoa diferente disser que sua música fez o dia dela melhor, pode ter certeza que teu show contará com uma pessoa a mais a cada 10 posts… coisa que 100000 reações ou visualizações soltos não fariam. Nossa briga, com a arte, tem que ser por isso. A quantidade nunca será qualidade… por mais que um algoritmo insista em te boicotar (é a percepção que temos, inegável, apesar de muitas vezes ser ilusória), quem ama seu trabalho será impactado, porque busca, não porque recebe. Nosso trabalho é conquistar as pessoas pra que elas não esperem receber seu post, mas para que busquem por eles de tempos em tempos.
O Pedro Cardoso fez isso, pediu para que todas as pessoas que o acompanhavam no insta deixassem de segui-lo (https://www.instagram.com/p/CDtCJGxAm37/) e só buscassem seus conteúdos quando quisessem, óbvio que nem todos seguiram a risca, muita gente não recebeu a mensagem e/ou não obedeceu, mas mesmo caindo mais de 200k seguidores, o engajamento dele se manteve intacto… por que? Porque ele conquistou aquelas pessoas, o algoritmo não controla mais o que elas veem ou não, são elas que buscam a informação e esse é o grande ponto: nosso objetivo não tem que ser só surfar no algoritmo, mas conquistar as pessoas ao ponto delas quererem seu conteúdo, o algoritmo indicando ou não, são essas pessoas que irão a um show, apoiarão um financiamento coletivo e acompanharão sua carreira em qualquer rede.
Por um mundo com mais fãs e menos dependência de números, bora mudar esse cenário, começando pelo objetivo: a arte sempre será um fator de conexão, e quando ela rola, o algoritmo pode fazer o que for, o interesse será mais forte que qualquer número.